A captação de recursos vem ganhando contornos diversos e inovadores. Novos arranjos com diferentes atores estão dando o tom de modelos cada vez mais dinâmicos e criativos. Quando a maré sobe, os barcos sobem junto. Se isoladamente produzimos impacto, imagina quando nos juntamos e o potencializamos?
A discussão de uma Filantropia Colaborativa se insere nesse contexto. A primeira vez que ouvi a expressão foi durante um Congresso do GIFE e achei muito interessante saber que era uma tendência bem sólida no setor. Na época, já era algo que via na prática porque adotava a colaboração como uma estratégia de ampliação da taxa de aprovação nos projetos. Afinal, fazendo isso, percebi que era uma oportunidade de juntar diferentes expertises, ampliar o alcance e trazer para perto financiadores novos, que viam nesse arranjo um potencial estratégico de alocação dos seus recursos.
Segundo o GIFE, a Filantropia colaborativa é constituída por “formas de colaboração em que há participação de pelo menos dois doadores ou gestores de recursos filantrópicos, que colaboram na mobilização, coordenação, alocação e gestão dos recursos filantrópicos”.
Pois bem, tenho ouvido a palavra “colaboração” bem forte nos últimos dias nas conversas e eventos que tenho participado e me leva a refletir sobre outro tema que é a democratização dos recursos puxado pelo movimento #ShifTthePower. A reivindicação por um compartilhamento mais justo dos recursos tem colocado luz para quem vivencia as questões socioambientais na ponta e que, ao mesmo tempo, é quem melhor consegue propor caminhos eficientes de resposta à elas. Todavia, nem sempre são essas estruturas organizativas que acessam os recursos para fazer acontecer. E aí está uma questão fundamental: a centralidade está em irrigar o campo e dar mais condições para que os recursos cheguem em todos os formatos para os atores que promovem mudança nas pessoas e nos territórios.
Interessante ver na prática que essas novas arquiteturas vêm ganhando forma inclusive entre financiadores com o surgimento de fundos colaborativos, esforços direcionados para uso dos recursos e fortalecimento de agendas em comuns entre alguns desses atores. Então, existe uma movimentação acontecendo nessa direção e que inevitavelmente vai gerar frutos relevantes para o setor em brevíssimo tempo.
Tem, ainda, ações combinadas entre setores, como é o caso do blended finance, que é um tipo de financiamento híbrido, mesclando recursos da Filantropia com recursos do mercado financeiro para aumento do impacto social positivo da iniciativa apoiada. Exemplos como esse são indicativos de que existe espaço para inovar e propor mecanismos coletivos que ativam a colaboração.
O horizonte aponta que os caminhos estão abertos para novas mentalidades, formatos e abordagens que deslocam poder e recursos, permitindo catalisar o impacto para que ele chegue mais longe. O fomento desta cultura é um caminho potente e revolucionário.
Texto escrito pela colunista Daiane Dultra, mobilizadora de pessoas e recursos, consultora e mentora, estudiosa de inovação e fundraising, gestora no NOSSAS, captadora do Mapa do Acolhimento e da campanha Amazônia de Pé.