Embora sejam referência para a filósofa Angela Davis, ícone do feminismo negro norte-americano, as ideias de Lélia Gonzalez ainda são pouco conhecidas pela maioria dos brasileiros. Foi só em 2020 que uma grande editora comercial publicou um livro sobre a pensadora nascida em Minas Gerais, em 1935. É com o objetivo de manter vivo o legado da ativista e de popularizar seu pensamento que surge o “Lélia Gonzalez Vive“.
O projeto, fruto de uma parceria nossa com a família de Lélia, busca ampliar o debate atual sobre feminismo e antirracismo no Brasil ao resgatar a obra da antropóloga e ativista. Com foco em canais digitais, queremos atingir um amplo público para levar o pensamento dessa grande mulher negra para além do ambiente acadêmico.
Ao reunir ideias das mais diversas áreas de conhecimento – da psicanálise ao candomblé – a pensadora traça um caminho fundamental para entender o Brasil atual. Compreender questões raciais e de gênero é também contribuir para promoção de uma sociedade mais democrática para todos.
O que pensava Lélia Gonzalez?
Precursora do que hoje se chama de interseccionalidade nos debates sobre raça e gênero, Lélia foi historiadora, filósofa, antropóloga, professora, uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), além de e integrante do primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e participante dos debates para elaboração da Constituição de 1988.
Ao longo de suas décadas de atuação profissional, Lélia também estudou Antropologia, Sociologia e Psicanálise e foi a primeira intelectual a sair do Brasil para debater a condição da mulher negra brasileira. Na sua atuação internacional, se destaca a vice-presidência do 1º e do 2º Seminário da ONU sobre a “Mulher e o apartheid”, ambos em 1980.
Em um contexto de visibilidade do feminismo branco e europeu nos debates acadêmicos e na militância, a antropóloga é pioneira ao propor um feminismo que contemple também as dimensões raciais e que seja precursor de um pensamento decolonial. A historiadora também é conhecida pela dura crítica ao mito da democracia racial documentado pelo sociólogo Gilberto Freyre (1900 – 1987) no livro “Casa-Grande & Sensala”, de 1933.
Além das ideias inovadoras, Lélia tem como marca o humor. No artigo “Racismo e sexismo na cultura brasileira”, apresentado em 1980, em que debate o papel da mulher negra na formação cultural do Brasil, ela questiona a produção acadêmica hegemônica de homens brancos e afirma que os negros estariam “na lata de lixo da sociedade brasileira, pois assim o determina a lógica da dominação”. Em seguida, provoca: “Neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa”.
A família Almeida
O “Lélia Gonzalez Vive” é o primeiro projeto em que a família da antropóloga se une a uma organização da sociedade civil para assumir a co-autoria da manutenção do legado de sua obra.
Familiares da historiadora chegaram a contribuir para iniciativas anteriores, como o “Projeto Memória – Lélia Gonzalez”, financiado pela Fundação Banco do Brasil e coordenado pela Rede de Desenvolvimento Social – REDEH, em 2015, mas o protagonismo de duas gerações da família Almeida na elaboração e execução de um projeto sobre a ativista é inédito.
O jeito carismático e transformador da pensadora é uma das marcas da ativista. “Ela quis desde cedo me preparar para a vida e para enfrentar o racismo, me levando para as reuniões no Teatro Opinião, no Rio, quando eu tinha 15 ou 16 anos. Era importante assumir minha negritude desde cedo”, lembra Rubens Rufino (59 anos), filho de Lélia.
Se a memória da antropóloga é resgatada por filhos, sobrinhos e netos agora, a história de seus pais e irmãos é fundamental na trajetória da pensadora. Nascida Lélia de Almeida em Belo Horizonte (MG) em 1935, ela é a penúltima de 18 filhos do operário negro Acácio Joaquim de Almeida com Urcinda Seraphim de Almeida, descendente de indígena.
Aos 7 anos, Lélia se muda com a família para o Rio de Janeiro para acompanhar Jayme de Almeida. O irmão 15 anos mais velho da historiadora passa a jogar no Flamengo e se torna um dos primeiros ídolos negros do futebol brasileiro na década de 1940.
A carreira do atleta possibilita que a irmã mais nova avance nos estudos. Depois de concluir o secundário no colégio Pedro II, Lélia se graduou em história e geografia pela Universidade do Estado da Guanabara, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Em seguida, cursou filosofia na mesma instituição.
Lélia Gonzalez Vive!
Acompanhe o projeto por meio das redes sociais:
Instagram
Facebook
E em nosso portal de conteúdo
Parcerias: Camilla Ceylão e Melina Marques
Email: projetolelia@nossacausa.com