No último post, Motivos para doação: o impulso que vem de dentro, falei sobre minha busca por motivo e do meu encontro com a complexidade do estímulo que nos leva a doar, que pode vir de dentro de nós, de fora ou da relação dentro e fora. Quando esta força impulsionadora da doação vem de fora, ela chega para nós em forma de um pedido. Nestes casos, a doação é uma reação a uma necessidade iminente do outro.
Sempre me falaram que as pessoas não doam mais porque as organizações não pedem direito. Aliás, este é o terceiro maior motivo declarado por aqueles que, em 2015, deixaram de doar recursos em relação a anos anteriores (quase 7%), segundo a Pesquisa Doação Brasil. Confesso que nunca me entendi muito com o conceito, que me parece um tanto exigente com as organizações sociais, como se a mágica estivesse simplesmente em pedir mais, melhor.
Minha vontade de atuar no campo da promoção de uma cultura de doação viva e pulsante vem deste meu encontro com o pedir e sua conversão em doar. É um terreno árido, muitas vezes desanimador. Saí em busca de respostas para este dilema porque acredito no papel das organizações sociais na construção do tecido social brasileiro, e porque acho que a vida delas deveria ser mais fácil, ou em outras palavras, seus pedidos deveriam ter mais penetração, mais resposta.
Mas doação como resposta a um pedido acontece de fato, e pode ter um caráter mais humanitário ou mais cultural. Como seres humanos, é com dor pelo outro ou com gratidão por não sermos nós, que muitas vezes percebemos o sofrimento alheio, e estes podem ser os nossos elementos propulsores para doação. Nestes casos, a doação muitas vezes nos traz paz de espírito. Vemos com frequência este tipo de doação após grandes tragédias naturais ou humanas, como o desastre em Mariana. E é também neste ponto que algumas campanhas de mobilização tocam, em especial ligadas a doenças ou pobreza extrema, sempre com imagens avassaladoras.
A periferia também exerce este efeito sugador quando apoiamos grupos cujas intenções consideramos especialmente importantes, ligados de alguma forma à nossa história de vida, aos nossos valores morais, sociais ou espirituais.
Outro dia eu me peguei prontamente atendendo a um pedido da Minha Sampa para me tornar uma doadora mensal. Fiquei feliz. Eu gosto da cidade, quero vê-la cada vez melhor. Que bom que tem gente cuidando dela. E que bom que eu posso ajudar, doando. Talvez eu nunca tivesse ligado lá e pedido para me tornar doadora, mas quando a necessidade deles chegou a mim, eu estava pronta para apoiar.
Entendi, com o tempo, que não é “ou”, mas sim “e”. Uma mesma pessoa, esta que vos escreve, por exemplo, doa por vários motivos, vindos de dentro ou de fora. E de fato é essencial que as organizações façam pedidos de maneira clara e contundente. Se este pedido muda ou não a cultura do brasileiro, ou em outras palavras, se tem o poder de não só converter uma doação, mas fazer nascer um doador, é uma incógnita. Desconfio que depende muito de como o pedido é feito, de como se dá a relação.
No próximo e último post da série falarei sobre o impulso que vem da relação de dentro para fora.
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