Remuneração de CEOs globais aumentou 50% desde 2019, sendo 56 vezes maior que os salários dos trabalhadores, diz Oxfam

ONG News
2 de maio de 2025
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A remuneração média global de CEOs atingiu US4,3 milhões em 2024, revela nova análise da Oxfam divulgada antes do Dia Internacional do Trabalhador (1º de maio).

Isso representa um aumento real de 50% em relação aos US$ 2,9 milhões de 2019 (ajustado pela inflação) — um aumento que supera em muito o crescimento real dos salários do trabalhador médio, que viu um aumento de 0,9% no mesmo período de cinco anos nos países onde há dados disponíveis sobre remuneração de CEOs.

Esses cálculos são baseados no valor médio da remuneração total de executivos — incluindo bônus e ações — de quase 2.000 corporações em 35 países onde os CEOs receberam mais de US$ 1 milhão em 2024. Os dados, analisados pela Oxfam, foram obtidos do banco de dados S&P Capital IQ, que utiliza informações financeiras públicas das empresas.

  • Irlanda e Alemanha têm alguns dos CEOs mais bem pagos, com médias anuais de $ 6,7milhoes e $4,7 milhões em 2024, respectivamente. 
  • O CEO da BioNTech, uma multinacional alemã de biotecnologia que obteve enormes lucros com a vacina contra a COVID-19, embolsou um pacote de US$ 274 milhões em 2024.
  • A remuneração média de CEOs na África do Sul foi de US$ 1,6 milhão em 2024.

“Ano após ano, vemos o mesmo espetáculo grotesco: a remuneração dos CEOs dispara, enquanto os salários dos trabalhadores mal se mexem. Isso não é um defeito no sistema — é o sistema funcionando exatamente como planejado, canalizando riqueza para cima enquanto milhões de trabalhadores lutam para pagar aluguel, comida e saúde”, disse Amitabh Behar, diretor executivo da Oxfam Internacional.

O aumento da remuneração dos CEOs ocorre em meio a alertas de que os salários não acompanham o custo de vida. Embora a Organização Internacional do Trabalho (OIT) reporte um crescimento real de 2,7% nos salários globais em 2024, muitos trabalhadores viram seus rendimentos estagnarem.

Na França, África do Sul e Espanha, por exemplo, o aumento real dos salários foi de apenas 0,6% no último ano. Embora a desigualdade salarial tenha diminuído globalmente, ela permanece alta, especialmente em países de baixa renda, onde os 10% mais ricos detêm uma renda 3,4 vezes maior que os 40% mais pobres.

Os bilionários, que muitas vezes detêm, total ou parcialmente, grandes corporações, embolsaram, em média, US$ 206 bilhões em novas riquezas no último ano. Isso equivale a US$ 23.500 por hora, mais do que a renda média global em 2023 (US$ 21.000).

Além da disparada na remuneração dos CEOs, a classe trabalhadora global agora enfrenta uma nova ameaça: as tarifas comerciais dos EUA. Essas políticas representam riscos significativos para trabalhadores em todo o mundo, incluindo perda de empregos e aumento no custo de produtos básicos, o que agravaria a desigualdade extrema em todos os lugares.

“Para tantos trabalhadores ao redor do mundo, o uso irresponsável de tarifas pelo presidente Trump significa passar de uma ordem cruel para outra: da frigideira das políticas comerciais neoliberais destrutivas para o fogo das tarifas usadas como arma. Essas políticas não só prejudicarão famílias trabalhadoras nos EUA, mas especialmente os trabalhadores que tentam escapar da pobreza em alguns dos países mais pobres do mundo”, disse Behar.

Cada vez mais, as empresas são obrigadas por lei a divulgar suas disparidades salariais de gênero — a média de discrepância nos rendimentos entre homens e mulheres. A análise da Oxfam do banco de dados S&P Capital IQ mostrou que, entre 11.366 corporações em 82 países que reportaram dados sobre a diferença salarial de gênero, a média diminuiu levemente de 27% para 22% entre 2022 e 2023. Ainda assim, em média, as mulheres nessas empresas continuam trabalhando sem remuneração às sextas-feiras, enquanto seus colegas homens são pagos pela semana inteira.

Empresas no Japão e na Coreia do Sul registraram algumas das maiores diferenças salariais de gênero em 2023 (cerca de 40%). Na América Latina, a diferença média foi de 36% em 2023, acima dos 34% do ano anterior. Empresas no Canadá, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido reportaram diferenças médias de 16%.

“Os números do Brasil seguem a tendência preocupante da América Latina, onde a diferença salarial entre homens e mulheres subiu de 34% para 36% em apenas um ano. Aqui, os dados do governo mostram que as mulheres receberam 20,7% menos que os homens em 2023 – uma piora em relação aos 19,4% de 2022. E a situação fica ainda mais grave quando olhamos para as mulheres negras, onde essa diferença pode ultrapassar 50%”, afirma Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

“Estamos vendo na prática como as desigualdades históricas se perpetuam. Quando uma mulher negra precisa trabalhar o dobro para ganhar o mesmo, fica claro que o racismo e o machismo, frutos de uma herança colonial, ainda ditam as regras do jogo no mercado de trabalho”, reforçou Viviana.

A análise da Oxfam também revelou que, entre 45.501 corporações em 168 países onde o CEO recebe mais de US$ 10 milhões e seu gênero é informado, menos de 7% têm uma CEO mulher.

“A desigualdade escandalosa entre a remuneração dos CEOs e dos trabalhadores confirma que falta democracia onde ela é mais necessária: no trabalho. Ao redor do mundo, os trabalhadores são privados do básico para viver enquanto as corporações registram lucros recordes, sonegam impostos e fazem lobby para evitar responsabilidades”, disse Luc Triangle, secretário-geral da Confederação Sindical Internacional (ITUC).

“Os trabalhadores exigem um Novo Contrato Social que funcione para eles — não para os bilionários que minam a democracia. Tributação justa, serviços públicos robustos, salários dignos e uma transição justa não são demandas radicais — são a base de uma sociedade justa. É hora de acabar com o golpe dos bilionários contra a democracia e colocar as pessoas e o planeta em primeiro lugar.”

Oxfam e a ITUC pedem que os governos mantenham e acelerem o movimento para taxar os super-ricos, tanto nacional quanto globalmente. Isso inclui a introdução de alíquotas marginais de pelo menos 75% sobre toda a renda pessoal dos mais ricos, para desencorajar remunerações exorbitantes de executivos. Os governos também devem garantir que os salários mínimos acompanhem a inflação e que todos tenham direito a se sindicalizar, fazer greve e negociar coletivamente.

(Assessoria de Imprensa)

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